Estantes acumulam instantes, Num momento, tão distantes... A foto no porta-retrato, um contrato Do tempo que não vai mais voltar... Nem crença, nem fé, ou bater o pé Nem indiferença, marcha ré, o faz ré-tornar
Essa cara de menina, que saudade me da Esses olhos, os brinquinhos, o sorriso A inocência que eu tinha, que ela teve Que insiste em tomar de volta espaço Mas já não há mais o cativo-amado lugar E fica só esse cheiro, só esse cheiro de gente grande, de crescer, de saber, de melancolia, de alma vazia, de tudo que vinha tinha, existia, fazia e todos os outros ias de um passado tão perfeito, do que era Era. pretérito de nunca mais voltar...
Que o meu amor não se espante Nem se retorça, se intimide, com menos que uma ameaça uma promessa, um juramento de meter-lhe a faca no peito e deixa-lo aberto...
Que o meu amor não se desfaça Nem se faça de bobo, de esperto, ou qualquer outra mentira Enfeitada e florida, que se coloca na janela pra se esconder da vida...
Que o meu amor não se deixe Nem se feche, nem se esquive de nada além da crueldade Desse cotidiano, que nos enfiam na cara, mesmo sendo tão insano...
Que o meu amor não se entregue Pelo contrário, que incansavelmente insista em se machucar Pra que mais tarde não enlouqueça e nesse mundo seja só mais um covarde... Que o meu amor não se vá Mas que fiquei e chore, que se escangalhe, que insista em ser Esse amor sorrateiro, que chega devagar e pula de cabeça num eterno desfiladeiro...
Meus olhos lhe suplicam outro olhar, suplicam sim Esses olhos cansados, cheio de areia, lhe rogam Um tanto quanto inofensivos, dependentes Mais um sorriso de olhar, e mais um apenas Ainda que me queiram outros milhares, infindáveis; Ter apenas mais um, só um por vez já me aquieta a alma Hesitante outrora, acorrentada era, com sorrisos forçados Estampados no rosto essas alegrias não reais, se foram... Ultra-romântico, ultra-sensível, ultra-real São esses teus olhos assim, me sorrindo...
Eu jurei a mim mesma não chorar por mais ninguém que não soubesse do meu amor Jurei e jurei não chorar mais com fervor Chorei tanto em vão que perdi a razão e esqueci o que jurei E assim, esquecendo de vez Chorei 1, 2, 3... Mas não desisti, e jurei... E eu continuo jurando e dizendo que não vou mais pensar, que não vou viver de passado, que tudo está acabado e de nada mais eu vou lembrar, Mas a alma grita e recorda e a memória logo brota e eu lembro da súplica no meu olhar.. Eu lembro do coração batendo acelerado e o meu corpo todo acomodado na vontade de te amar... E quando tudo enfim terminou Eu pensei que toda aquela dor iria embora sem eu pedir, E confesso que foi embora, mas da pior maneira que eu já senti... E agora, atormentada minh'alma piora e por fim eu vivo este desefecho em que consegui cumprir o meu desejo... mas, doi tanto o meu grito abafar Que eu daria tudo,tudo, tudo, pra poder, só mais uma vez, chorar...
E agora, acredita quando eu disse que não ia voltar? Que o meu quarto então ia ficar intocado E você se lamentando por eu te deixar... Leva embora a alma, a morte fria E o corpo sem força se faz ecoar na cabeça, insanamente a imagem brilha olhos vazios, coração parado, sem respirar rola pro canto a faca molhada poça, vermelho viçoso, começa a se formar...
Já era tarde pra ser A esperança aflita se foi sem mais euforia ou canção o coração palpitava, só pela dor Me faltava o pedaço direito, pedaço decente, de gente aquele pedaço de aconchego, desejo, insanidade que os lábios nem sentem mais, que os olhos bem quietos nem procuram esse mesmo que o corpo rejeita nos abraços, nos laços, na voz Cada pedaço que sobra se recolhe, se encolhe, se desfaz As unhas se acabam, a pele eriçada sem motivação, sem nada, sem nada Não poder ter, não poder ser, não poder e não querer Já era tarde, já era bem tarde... E sendo tarde assim, o meu eu - lírico mortificava-se um pouco mais Com aquele montante de idéias que já não se faziam Esses sonhos mal sonhados que ficam dentro da gente que nos perturbam, tiram a paz, tiram o sono, e o sonho com essa maneira irônica, ironia, ironia essa maneira infindável de nos apagarmos, apegarmos e não saber como soltar pra deixar essa desgraça ir embora Foi num desses turbilhões de pensamentos que a tua presença se chegou, sentou, tomou lugar Deu assim aquele suspiro e meio de pensamento mal formulado deu a voz, o calor Tendo sido assim, lá se foi embora aquela que me protegia o rosto cujos olhos vazios, vazados, nada diziam, nada enxergavam Rendendo-me todos os sentidos por fora, por dentro Acordando os meus sorrisos incontroláveis Dando-me enfim, não lagartas, mas belas e lindas borboletas Dessas que costumamos guardar no estomago...
Eu vou Inutilmente me deixando envolver Por esse teu caLor, braços e abraços Descontroladas, qUase distorcidas essas sensações Num miSto de vontade, saudade, alegria NÃo me preocupando, me deixando ficar EsperandO não ser só mais uma...
Me encanta tanto, de um jeito espontâneo, essa tua voz, Assim tão doce, sempre meio quieta, sendo quase inaudível Rouca, saindo dos lábios, sussurrada. Esse tom que me agarra, me agrada Conquistando os meus ouvidos sorrateiramente Ouvidos estes que não se prendem sem motivo Senão aguçados pela música... Música... Assim me soa então, mesmo sem nem perceber Tua voz me aconchega; Se achega e me faz divagar Habilmente me arranca dos meus pensamentos, sem sacrifício, sem demora E lá volto eu pra ouvir mais desse teu jeito de falar... Uns são assim mesmo, só se apresentam, dizem o nome; Sem muito floreio, sem dar voltas, arrumam logo um espaço no coração... E então, ficam.
É bem assim à noite É bem assim... Que se encontram os cheiros, desejos e paixões Com a cabeça no travesseiro e as mil pulsações Suspirando Sus... Pirando Só. Revira os olhos, implora, e pede Os lábios apertados, a dor cede
Vai até lá, E diz Tudo que a minha coragem não consegue dizer Essa coragem ensandecida, sem graça, sem sal, mosca morta
Vai até lá, E faz O que fica correndo só na minha mente Nas minhas veias No meu cobertor emaranhado nas minhas pernas, mãos, rosto Abafando o que eu chamo de choro Essa miserável condição em que me encontro
Grita bem baixinho no ouvido Acorda as pupilas no susto, no desespero A falta de ar, a sobra de ar, o descompasso O mundo preto, a tela preta, azulado de céu
Volta os sentidos pra ela, volta Esfrega os olhos, a mão na testa, a mão nos olhos A mão na mão, no palpitar Respira, o ar vai fundo, devagar Volta rápido, num sopro, num alívio
Juro! Na verdade, se juro é coisa que não sei, O que digo não precisa de meu sincero juramento Só minha honra basta, só meu olhar já chega Enquanto houver o som, a luz, o vento, não m'importa! Lembrarei. Por todos os dias, eu lembrarei. Unicamente porque digno e necessário me parece ser Incorporar, fundir, no âmago da minha existência, Zelar, pelo sorriso que plantei nos lábios de alguém...